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quarta-feira, 21 de março de 2012

Hoje escreve... Dário Pinto

Taekwondo - Arte Marcial de origem coreana e modalidade olímpica.

Para que todos consigam perceber a modalidade, aqui fica o primeiro documento que pretende explicar e desmistificar o mundo das artes marciais e a sua relação com o desporto:

Taekwondo explicado #1

Enquadramento histórico

Os primórdios remontam ao século I A.C., quando a região que é hoje a Coreia se encontrava dividida em três reinos: Shilla, Koguryo e Paekje. Já desde esses tempos ancestrais que os povos desenvolviam técnicas de combate corpo a corpo, utilizando-as não só para as guerras que se iam sucedendo, mas também para competições e torneios. Pensa-se que terá sido no reino de Koguryo que surgiu o Taekkyon, a forma mais antiga de Taekwondo que é conhecida, mas foram os guerreiros de Shilla que acabaram por desenvolver e divulgar a arte.
Com a Dinastia Koryo e consequente unificação da península, o Taekkyon foi utilizado ainda mais como instrumento de luta, com a aplicação direta ao exército. Se até então a vertente recreativa desta arte marcial ainda assumia uma forte componente na sua essência, passou a ser desenvolvida e estudada como arma militar, capaz de decidir combates e guerras. Nos primórdios desta dinastia, a perícia em Taekkyon era mesmo o único requisito necessário para admissão e subida hierárquica no exército coreano. Ao mesmo tempo, desenvolveu-se também o combate competitivo entre os próprios guerreiros, o que pode ser considerado como o nascimento da vertente desportiva da arte marcial nacional.
No entanto, a invenção da pólvora e de outras armas relegaram o Taekkyon para segundo plano, e acabou mesmo por se transmitir de geração em geração apenas como costume popular. O advento da Dinastia Yi, em grande parte baseada no confucionismo (que rejeitava este tipo de práticas), também contribuiu para a perda de importância das artes marciais tradicionais, que a um dado ponto mais não eram do que um jogo de crianças.
A ocupação japonesa em 1910 quase desferia o golpe final nesta tradição milenar. A proibição de costumes populares (incluindo a interdição explícita de Taekkyon) foi uma das estratégias de opressão do povo coreano e por pouco não teria mesmo sucesso! Contudo, esta estratégia acabaria por se tornar uma faca de dois gumes: parte da população abandonou a sua terra, procurando refúgio na vizinha China, e outros partiram para o Japão. O contacto com estas duas culturas permitiu o contacto com as respetivas artes marciais, com vários coreanos a aprenderem Kung-Fu e Karaté.
O fim da ocupação em 1945 originou uma enorme necessidade de reafirmação dos valores nacionais, e é nesse âmbito que nascem várias escolas de artes marciais, nalguns casos lideradas por praticantes de Kung-Fu e Karaté. Ao mesmo tempo que algumas se especializavam nestes estilos estrangeiros, outras pretenderam retomar as tradições perdidas, recuperando artes marciais antigas como o Taekkyon.


É neste contexto que nasce o Taekwondo como o conhecemos, fruto da investigação do passado secular dos costumes e tradições coreanas, mas também influenciado por artes marciais chinesas e japonesas. É em 1955, uma altura em que já abundavam escolas e mestres e se davam os primeiros passos na divulgação internacional dessa arte marcial, que surge a proposta de unificação nacional da arte marcial, dotando-a de identidade e denominação próprias: é aí que é adotado o termo Taekwondo e a atividade é aplicada ao exército coreano.
Deste então, tem-se verificado uma sucessão de marcos históricos na divulgação e crescimento a nível nacional e internacional do Taekwondo.:
· Em 1971 é nomeado desporto nacional da Coreia
· Em 1972 é criada a Kukkiwon, o centro da modalidade, responsável pela sua gestão, investigação e desenvolvimento a nível global
· Em 1973 é criada a World Taekwondo Federation, órgão máximo mundial responsável pela organização de torneios e competições e principal divulgador internacional desta arte marcial.
Aquele que é talvez o momento mais alto da história do Taekwondo é a sua presença nos Jogos Olímpicos de Seul, na condição de demonstração do desporto nacional (um velho costume dos Jogos Olímpicos entretanto extinto). O sucesso dessa presença levou à sua repetição, com o mesmo estatuto, em 1992 (Barcelona), até que o Taekwondo foi oficialmente adotado como modalidade olímpica em Sidney, em 2000.
Em Sydney assistiu-se ao melhor do Taekwondo mundial. Foram estabelecidos processos de seleção rigorosos e justos, permitindo o acesso aos Jogos a atletas que representem o melhor de cada nação.
O apuramento foi feito da seguinte forma: têm acesso aos jogos os vencedores de Campeonatos Continentais (ex. Campeonato da Europa), de onde são apurados um total de 56 atletas. Antes dos Jogos, realiza-se um torneio pré-olímpico de apuramento onde são apurados mais 32 atletas, totalizando 88. Dos restantes lugares, são oferecidos 8 lugares ao país organizador (neste caso foi a Austrália), e os 4 atletas finais escolhidos pela W.T.F. e pelo Comité Olímpico Internacional, totalizando então os 100 atletas que tiveram direito a competir.
Pela primeira vez, nos Jogos Olímpicos de 2008 em Pequim, na China, Portugal foi representado nesta modalidade, pelo atleta Pedro Póvoa, acompanhado do selecionador Joaquim Peixoto.
O Taekwondo constitui, a par do Judo (e num sentido mais lato, do Boxe e da Luta Livre), o restrito leque de artes marciais com esse estatuto. O estatuto de modalidade olímpica.
Desde 2008 têm sido muitos os títulos conquistados por atletas portugueses ao nível internacional o que demonstra inequivocamente o crescimento desta modalidade, na sua vertente desportiva.Em apenas 40 anos após a sua disseminação pelo mundo fora, o Taekwondo foi reconhecido como desporto global e por este meio a Língua Coreana tornou-se uma língua oficial, juntamente com o Inglês, Francês e Japonês, tendo a Coreia alcançado um grande sucesso realçando o seu valor nacional para todo o mundo.

Fonte:
http://www.kukkiwon.or.kr
Lopes, Horácio. "Formando Praticantes de Taekwondo"


Dário Pinto
Treinador de Grau 2 (cédula do IDP - Instituto do Desporto de Portugal)

Cinto Negro 2º DAN



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