Páginas

quarta-feira, 28 de março de 2012

Hoje escreve.... Agostinho Silva

Os erros dos árbitros de futebol

Hoje em dia, assistimos cada vez mais a programas desportivos com comentadores convidados que pouco ou nada percebem de leis do Jogo. A única lei debatida nesses programas é a lei clubística.
Alguns meios de comunicação social, nomeadamente, rádios, televisões e jornais desportivos, contrataram algumas pessoas ligadas ao futebol para comentar jogos, sabendo que, algumas delas nunca tiraram um curso de arbitragem e os que tiraram e deixaram a arbitragem, pouco ou nada se atualizaram sobre as leis, regulamentos e recomendações que todos anos a FIFA emite.
Sabemos que a imprensa desportiva só vende se houver casos apelativos para os leitores. Sabemos também que a relação do árbitro de futebol com esta nem sempre foi amigável. A falta de sensibilidade e preparação técnica de alguns indivíduos para comentarem as ações dos árbitros antes, durante e após o jogo, está a contribuir para que variados adjetivos negativos sejam atribuídos ao profissional do apito e, consequentemente, façam parte do vocabulário futebolístico.
Antes de desempenhar a função de árbitro de futebol, fui jogador e sócio de um clube. Como jogador, só reparava nas faltas que beneficiavam a minha equipa. Como sócio, na bancada, via todas as faltas que não eram marcadas a favor da minha equipa e julgava-me mais sapiente nas leis do que o próprio árbitro do jogo. Depois de tirar o curso de árbitro e entrar em campo para exercer essa tarefa, é que percebi o quanto, na realidade, é difícil gerir uma partida de futebol.
Os problemas enfrentados pelos árbitros antes do início da partida são variadíssimos, destacando-se, a título de exemplo, as fracas condições de algumas instalações desportivas, a desonestidade e ausência de desportivismo de determinados dirigentes e até a falta de conhecimento das regras por parte de atletas, técnicos e treinadores.     
Reconheço que, no mundo da arbitragem, há árbitros com bom e outros com menos bom desempenho, uns melhor preparados que outros e árbitros honestos e desonestos, tal como se verifica em todas as profissões.
Durante os sete dias da semana, os jornais, as rádios e as televisões falam do árbitro e comentam o seu trabalho e o modo como muitas apreciações são feitas transmite a ideia de que os seus autores parecem infalíveis, perfeitos e incapazes de perpetrarem enganos de apreciação.
Do mesmo modo, há determinados "especialistas de bancada" que distorcem as leis do jogo e que, ao comporem comentários veementes e convictos, fazem com que os adeptos e dirigentes, (que muitas vezes, também eles, desconhecem as regras do futebol), acabem por acreditar nas suas análises, levando-os a considerar injustas as decisões tomadas pelos árbitros durante o jogo. Mesmo com os avanços tecnológicos, como a utilização do videotape e a técnica do "replay" bem como com a contratação dos chamados "especialistas" em leis do jogo, por vezes há decisões do trio de arbitragem que geram opiniões diferentes. O relatador que está em direto emite o seu parecer, o comentador depois de ver as imagens, partilha o seu ponto de vista e o especialista em arbitragem argumenta a questão técnica e disciplinar do lance, baseando-se nas leis. As discussões e as conclusões são diferentes e variadas, sendo difícil, em algumas ocasiões, chegar-se a um consenso, mesmo vendo e revendo o lance inúmeras vezes. Para o árbitro, esta possibilidade de reanalisar determinado lance ou jogada e posteriormente decidir em conformidade, não acontece. A ele, só é permitido ver a imagem que ocorre no momento do jogo e que, por vezes, é dificultada por condições normais, por exemplo, pela interposição de um jogador que, no momento em que a situação acontece, passa sem intenção à frente do árbitro, tornando a visualização para a decisão ainda mais complicada.
No meu ponto de vista, os recursos tecnológicos desenvolvidos para as análises de jogadas durante a transmissão de uma partida, em vez de contribuírem para melhorar a qualidade desportiva, criam maior dificuldade a quem arbitra uma partida de futebol e podem colocar dúvidas ao telespectador sobre as regras do jogo. Infelizmente, por vezes, são usados comentários desencontrados e efetuados sem se ter em linha de conta as leis do futebol. Essa atitude aumenta a polémica sobre a atuação da equipa de arbitragem, contribuindo de forma negativa para a aprendizagem ou para o aprofundamento dos conhecimentos relativo às leis pelo público em geral. Os comentários pronunciados em direto ou proferidos durante a semana sobre determinado jogo, no sentido de ofender e denegrir o trabalho do árbitro e dos seus assistentes, são utilizados, posteriormente, pelos adeptos e simpatizantes desses clubes, para dilatar ainda mais a desconfiança sobre a sua atuação.
Habitualmente, se o árbitro cometer algumas falhas durante um jogo, alguns dirigentes desportivos prontamente fazem os devidos lamentos, tentando passar as culpas dos desaires de que a sua equipa vem padecendo para outros. É óbvio que os dirigentes da arbitragem, numa tentativa de serenarem os ânimos, a primeira coisa que fazem é colocar o árbitro visado na “jarra” ou seja, não o convocam, durante algum tempo, para dirigir encontros de futebol. Relativamente a esta atitude, julgo que os próprios árbitros são, em grande parte, culpados, pois não se organizam nem se defendem coletivamente. Como prova desta constatação, é um caso passado há relativamente pouco tempo, em que um árbitro se recusou a fazer um determinado jogo e, logo, não faltaram “fura greves” para arbitrar esse jogo.
Alguns erros cometidos pela equipa de arbitragem podem acontecer porque a visão sobre o lance não foi a melhor, derivada muitas das vezes pelo facto de estarem mal posicionados no terreno de jogo. A posição dos jogadores e o lado em que a falta é cometida pode fazer com que o árbitro interprete o lance de forma errada. O mesmo pode advir num estádio em que os espectadores colocados de um lado visualizam a falta e os do lado oposto não a conseguem observar derivado ao seu ângulo de visão.
         É certo que uma decisão errada, consequente de uma má apreciação da jogada, é uma decisão consumada. Contudo, isso não significa que o árbitro não conheça as leis do jogo ou que esteja mal-intencionado.
Na apreciação geral, os erros cometidos pelos árbitros são imperdoáveis para algumas pessoas. “Errare humanum est” e, sendo uma faceta da condição humana, qualquer um pode errar. No entanto, na prática, esta autenticidade não é válida para todos. Se um jogador falhar durante o jogo, essa situação é aceitável por qualquer indivíduo envolvido no futebol. Todavia, com o árbitro, tal prerrogativa não é admissível. A maioria das pessoas considera que o árbitro não erra, mas que age de má-fé, logo,  não tem direito ao erro.
O árbitro é a “persona no grata” do encontro. No entanto, antes dos jogos, subsiste uma grande preocupação por parte de algumas pessoas em saber quem é o árbitro que vai dirigir o encontro. De acordo com as leis do jogo, um encontro de futebol nunca pode ficar por se realizar por falta de árbitros e, por isso, quando chega a hora do jogo e o árbitro se atrasa, os dirigentes ficam preocupados e sem saber como agir. Se assim é, porque razão é atribuída ao árbitro tal condição?
         Em guisa de conclusão, o árbitro é o elemento mais injuriado durante um jogo. As suas atitudes são questionadas de múltiplas e variadas formas, sem serem fundamentadas nas leis do jogo, por pessoas leigas no que a esta temática diz respeito e por pseudo-especialistas. Por isso, hoje em dia, a atuação da equipa de arbitragem é cada vez mais complexa e difícil.

Agostinho Silva

Próxima Crónica de Agostinho Silva: 02 de Maio
Próxima Crónica Desporto Paivense: Paulo Teixeira a 04 de Abril 


2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente artigo escrito por alguém a quem a arbitragem deve muito.

Anónimo disse...

Parabéns Agostinho, crónicas deste tipo deviam correr a imprensa Nacional.